Há momentos em que os desafios de uma cidade não podem ser enfrentados por uma única gestão, por um único setor, por um único esforço. Foi assim em Torres, em meados do século XX, quando as belezas naturais contrastavam com problemas estruturais urgentes. Faltava água potável, a energia elétrica era escassa e o o por estradas, precário. A cidade sonhava, e tinha potencial para ser balneário, mas precisava, antes, ser planejada.
Foi nesse cenário que a Sociedade dos Amigos da Praia de Torres – SAPT se revelou mais do que uma associação de veranistas: tornou-se agente ativa na construção da infraestrutura e do bem-estar local. Um braço estendido à cidade.
Com recursos próprios, a SAPT cooperou com a Prefeitura na busca de soluções. Contribuiu para o fornecimento de água por meio da adoção de sistemas de pontas abissínias e da recuperação de um antigo poço (cuja localização exata não tenho conhecimento até o momento, embora sua existência seja mencionada em diversos registros).
Em relação à energia elétrica, sabe-se da existência de usinas termoelétricas nas décadas de 1920 e 1930. Uma delas era conhecida como “usina do Picoral”, e outra localizava-se às margens da Lagoa do Violão, abastecidas por lenha retirada do Faxinal, transportada em canoas por canais até a lagoa e então distribuída nas redondezas. Em 1945, diante do risco de colapso no fornecimento, a SAPT emprestou verba à istração municipal para a compra de um novo gerador, a ser instalado na usina local.
As estradas de o também foram objeto de atenção. A SAPT atuou junto ao DAER na busca por melhorias que garantissem o escoamento de produtos, o deslocamento de pessoas e o fortalecimento do turismo. Afinal, como diz o lema estampado na bandeira do município – agricultura e turismo –, era preciso investir para que as vocações econômicas da cidade pudessem se desenvolver.
Durante as temporadas de verão, quando a cidade ganhava movimento e crescia em população, a SAPT oferecia assistência médica gratuita à população carente. Muitos médicos influentes faziam parte do quadro de sócios e demonstravam genuína preocupação com a saúde pública do município. Essa mobilização inicial pavimentou o caminho para a futura criação do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em parceria com o poder público.
Contribuição cobrada de veranistas e destinadas a melhorias de Torres
Foi também por sugestão da SAPT que se instituiu a Taxa Balnear — uma espécie de contribuição cobrada dos veranistas e destinada ao Fundo de Custeio de Obras. A proposta era clara: colaborar com as melhorias que a cidade tanto precisava, sem sobrecarregar financeiramente a população local.
À frente da associação, o presidente Antônio Vieira Pires compreendia que o futuro de Torres dependeria da união de esforços. Diante das limitações do poder público, chegou a sugerir que o Governo do Estado assumisse parte das demandas locais.
“ “Só assim poderia Torres tornar-se uma grande praia, oferecendo aos turistas, moradores e veranistas: conforto, higiene e segurança, cuja falta era quase total”, afirmou o então presidente da SAPT, aclamando ainda que todos unissem esforços para a prosperidade da praia. “Esta será, dentro de pouco tempo, uma das mais aprazíveis estâncias de repouso do Brasil. Pela natureza, é uma das mais belas, todavia, tem lhe faltado a obra do homem no aproveitamento de suas belezas naturais”.”
Hoje, ao olharmos para trás, vemos que muito em prol de Torres foi possível graças à cooperação, à cidadania ativa e à crença no bem coletivo. A história da SAPT se entrelaça à história de Torres justamente por isso: por reconhecer que o amor por uma cidade se constrói com atitudes, parcerias e compromisso.
E que essa memória nos inspire, ainda hoje, a cuidar — da paisagem, das pessoas e dos sonhos que aqui habitam.